Tinha desafiado vocês aqui a fazer a leitura conjunta de Dr. Jivago de Boris Pasternak :)
Felizmente algumas pessoas alinharam!! O que é muito bom, pois assim podemos trocar impressões sobre este clássico e porque juntos ficamos mais motivados!
Vou colocar a minha opinião neste post e vocês colocam a vossa nos comentários para irmos "falando" 
:)

Quando concluírem a leitura e quiserem comentar, basta clicar na imagem da obra, na barra lateral direita, que serão reencaminhados para os posts da leitura conjunta. Depois, é só escrever na zona dos comentários.

Estas são as duas versões que eu tenho da obra.
Estou a fazer a leitura na versão de bolso. A qual está a ficar toda sublinhada e cheia de anotações ^_^



Pessoalmente, adoro ler os escritores russos. No entanto, há sempre uma dificuldade que surge quando começo as leituras. Esta dificuldade reside no facto do nome dos personagens! É que, para além de termos de fixar nomes que nos são muito estranhos, cada personagem tem 3 nomes (ex: Amélia Karlovna Guichard; Nikolai Nikolaievitch Vedniapine; Ivan Ivanovitch Voskoboinikov). Ao problema dos 3 nomes junta-se o facto do autor ir usando os três nomes de forma isolado à maneira que a história se desenrola. O que é que acontece? Como são apresentados, logo de início, vários personagens os nomes surgem todos ao mesmo tempo e às tantas começo a pensar que existem mais personagens do que as que realmente existem! Isto obriga-me a voltar atrás inúmeras vezes (nas primeiras 70 páginas do livro) para perceber realmente quem é quem (e, sim, eu também tomo notas num cadernos do nomes dos persongens). Nunca me esqueço de que quando comecei a ler o meu primeiro clássico russo "Crime e Castigo" que tive de começar a leitura da obra novamente quando já estava bastante avançada. E porquê?? Porque na minha cabeça já havia muitos personagens que realmente não existiam. E isto tudo devido aos nomes :)
E pronto, isto foi um à parte e vamos agora à obra concretamente:

Os comentário neste post têm spoilers 

Embora a história tenha variadíssimos personagens, vou aqui destacar aqueles que acho que têm um papel fundamental.

A história passasse na Rússia e a primeira data com a qual nos deparamos é 1903.
Logo, nas primeiras páginas, é-nos apresentado Iuri Jivago ainda criança e na altura em que perde a sua mãe. O enterro desta, é descrito de forma magestosa, percebe-se que não é qualquer pessoa que vai a enterrar, é alguém muito conhecido dos habitantes.  A cadência das palavras de Pasternak, durante este episódio reportam-nos para lá, para aquele enterro, para aquele gelo, para aquela tristeza. Iuri tem apenas 10 anos e fica orfã, pois o seu pai é um homem ausente, ele não tem, nem nunca teve a figura paterna perto de si e a sua mais que tudo morre. Tudo é triste, a própria natureza partilha dos sentimentos desta criança. Está tudo cinzento, chove como quem chora, e o vento é tanto que parece que se revolta contra todos os obstáculos que encontra!

Iuri, fica a cargo do seu tio (Nikolai) que já fora padre. Um homem de ideias livres e de mente aberta, tal como a sua irmã que acabara de falecer. Nikolai, sofre as represálias de uma sociedade de mente fechada, pelo facto de ter abandonado o sacerdócio.  Pasternak, utiliza este personagem para falar de Kant, Marx e Soloviou, com o objectivo de tecer críticas à socidade e às modas da altura.

"Mas a moda neste momento está em organizar círculos e associações de todas as espécies. O espírito gregário é sempre o refúgio da ausência de dons"

"(...) para procurar a verdade, é preciso cortar relações com todos aqueles que não a amam bastante" e assim é, durante algum tempo as dissertações de Nikolai sobre a vida e sobre a sociedade a seu redor. Palavras/frases cheias de significado, que impregnam à obra um cariz muito crítico, mostrando-nos assim, que este é mais do que um romance sobre o amor, amizade, traições, aventuras e desventuras. Esta é uma grande obra, por tudo o que Pasternak revela sobre a vida e a História através dos seus personagens.

Continuando...

Outro dos personagens que penso ter grande relevo na obra é Micha Gordon,  é um menino cujos pais são judeus. É-nos apresentado como uma criança que pensa de forma adulta num mundo de adultos. Ele não entende, e até certo ponto recusa aceitar, a sua condição de judeu. Não percebe a razão pela qual ter de ser algo que é tão criticado e muitas vezes representativo da própria humilhação! Há um excelente parágrafo que mostra os sentimentos de Micha:

"tanto quanto se lembrava, nunca cessara de se perguntar com espanto como é que os homens, dotados de pernas iguais, podiam ser tão diferentes uns dos outros e, até tão pouco agradáveis. Não compreendia uma situação em que, sendo uma pessoa pior do que a outra, não procure corrigir-se e melhorar, Que significa ser judeu? Porque existem judeus? O que é que recompensa ou justifica este desafio desarmado que só contém em si sofrimento?"

Micha, é uma criança com uma maturidade evoluída para a sua idade. Prevejo que seja um personagem de grande importância no romance. Despreza os adultos que criam problemas e que posteriormente não sabem resolvê-los. Ele e o seu pai (advogado) têm um breve contacto com o pai de Iura, momentos antes daquele se suicidar, atirando-se do comboio. É, neste capítulo (suicídio do pai de Iura), que Pasternak nos presenta mais uma "catrafada" de personagens cuja importância, só conseguimos perceber mais à frente. Por este motivo, tive de ir reler algumas vezes, este capítulo, para entender a importância e o impacto do que eu estava a ler mais à frente.

Micha, é das poucas personagens que contacta com o pai de Iura, antes daquele morrer. O carinho que demonstrado para com Micha, leva a crer que Iura era amado pelo seu pai. O pai de Iura, expia a sua culpa oferecendo prendas a Micha.

(espero não estar a ser confusa, mas não é fácil esmiuçar esta obra, até porque há tanta informação nas entrelinhas e tudo é tão importante...)

Na segunda parte do livro, é-nos apresentado Larissa (também chamada de Lara) e que de acordo com a sinopse é a personagem mais importante a seguir a Iura Jivago.
Numa primeira fase, Lara é apresentada como uma criança/moça, muito bonita que vive um romance com o suposto amante da mãe. Amante este que é advogado (e que acompanhava o pai de Iura no momento da morte, portanto, tudo interligado) Ao longo da leitura, a personagem Lara sofre várias modificações, sempre para melhor, tornando-se mais confiante e corajosa. Uma mulher com uma personalidade forte! O sentido e o valor da família afiguram-se como valores primordiais. 

Entretanto, muita coisa acontece, os nossos personagens crescem e tornam-se homens e mulheres uns mais fortes do que outros, uns mais fracos e outros ainda mais perspicazes. Iura forma-se em medicina e torna-se Dr. Jivago, Lara casa-se, mas o destino faz com que vá prestar serviços como enfermeira para a guerra. Entretanto, Jivago é destacado para trabalhar também no campo de guerra, tratando dos feridos! 
Temos uma Rússia em plena Primeira Guerra Mundial, uma Rússia fragilizada, onde a crise económica se faz sentir, temos um povo insatisfeito e com fome, o que origina várias revoluções.
Esta primeira parte que lemos, é uma parte bastante importante para o resto do romance, pois aqui assentam as bases do que vai acontecer! Apesar de estar a gostar muito da escrita do autor e da história em si, muitos dos acontecimentos são previsíveis.

___________________________


Agora é partir para a segunda parte combinada :)
Julgo agora ser mais fácil a leitura, uma vez que já estamos mais familiarizados com os nomes.


4 comentários:

    On 20 fevereiro, 2017 LC disse...

    Olá Paula.

    Vou dar a minha primeira impressão sobre esta leitura, que em parte é parecida com a tua.

    O início da leitura deste livro é muito complicada. Os nomes das personagens como são em Russo e o escritor lhes faz referência com qualquer um dos seus 3 nome, torna-se muito complicado saber-se de quem se está ele a referir. Tive de pegar num caderninho e ir apontando o nome das personagens, para ir consultando quando necessário e conseguir entender o texto. Entretanto no decorrer da leitura fui-me orientando e fui conseguindo fixar os nomes das personagens.

    A apresentação das personagens e o local onde se encontram, são descritas com tanta minucia, que se torna muito enfadonho. Toda esta descrição, “estraga” de certa forma o “ritmo” da leitura, está bem que deve ser feita, mas podia ser mais sucinta. Com o avançar da leitura, depois da minuciosa descrição das personagens a leitura já se torna mais fluída, tornando-se menos enfadonha.

    Como só vou a um quarto da leitura, ainda não tenho opinião formada, mas parece-me um tipo de leitura que me atraí muito pouco.

     

    Olá Lígia,
    Quando comecei a leitura, logo nas primeiras páginas vi que ia gostar, devido à descrição do enterro da mãe de Iura. Quando li as grandes interrogações do pequeno Micha sobre a humanidade, confirmei mais uma vez isso.
    Confesso que com o decorrer da obra, houve alguns momentos, nomeadamente nos momentos em que Lara tem um caso com o advogado da mãe, ou naqueles em que tudo acontece para que Lara e Iura se encontrem, em que eu pensei: bem, isso parece uma escrita um tanto vulgar. Mas depois pus-me a pensar que isso só acontecia nos momentos de romance/amor entre os personagens. E talvez essa banalização na escrita tivesse a ver com os sentimentos. Talvez porque o autor os achasse banais? Talvez porque o são? Ou ainda, porque quando se fala de amor, todos falamos do mesmo? Gosto quando uma leitura me faz pensar assim, levantando várias questões.
    Gosto das descrições densas, porque são sempre feitas dentro do contexto de cada personagem. A natureza que fica agreste e se revolta no dia em que a mãe de Iura vai a enterrar, como se compactuasse com os sentimentos daquele menino. Todo o mistério envolto do suicídio do pai de Iura. E depois, fico à espera que coisas aconteçam e elas não acontecem :) Esperava por exemplo que Micha dissesse a Iura que o seu pai tinha-lhe oferecido as pedras dos Montes Urais. Esperava que ele falasse com Iura do que se passou no comboio... Começo a fazer projecções do que pode acontecer :P
    Estou a adorar!!

     

    Olá.
    Queria começar por dizer que para mim é novidade a leitura de escritores Russos , e confesso que é extremamente complicado ler um livro em que todas as personagens têm 3 nomes. Mas como fui desafiada pela minha amiga Lígia Casimiro, estou a levar o desafio a bom porto....

    A minha opinião sobre o que já li é muito igual à vossa....
    Muitos nomes, muita descrição de locais e situações o que me fez algumas vezes ter que voltar a trás na leitura para perceber bem o contexto....Mas confesso que estou muito curiosa para ver como algumas coisas se desenrolam.... Aguardo cenas dos próximos capítulos....

     

    Olá Lúcia Castro,
    Ainda bem que se juntou a nós :)
    Eu também estou muito curiosa com os restantes capítulos :)
    Abraço

     

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